sábado, 3 de setembro de 2016
terça-feira, 15 de março de 2016
Conhecer o que cremos. Um delicioso e inesgotável exercício
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Pilares de um labor teológico
4. Amplitude e profundidade
domingo, 24 de janeiro de 2016
Mas então, como se labora Teologia?
Por
Jânsen Leiros Jr.
Revisado
e ampliado em 16/05/2024
“Ó Senhor... Seja-me permitido enxergar a tua luz, embora de tão longe e desta profundidade. Ensina-me como procurar-te e mostra-te a mim que te procuro. Pois, sequer posso procurar-te se não me ensinares a maneira, nem encontrar-te se não te mostrares. Que eu possa procurar-te desejando-te, e desejar-te ao procurar-te, e encontrar-te amando-te, e amar-te ao te encontrar”
Anselmo de Cantuária - 1078 - destaque; em O que é
Teologia?
Coleção
Teologia ao Alcance de Todos - MK Editora
Seguindo nosso posicionamento
explicado no capítulo anterior, embora consideremos teologia como o ato simples
mas voluntário de pensar em Deus, Ele mesmo, Deus, não pode ser objeto material
de nosso labor teológico, uma vez que nenhum dos nossos sentidos o pode limitar
ou definir em forma ou essência. O objeto do empreendimento teológico é, antes,
a revelação de Deus, onde e como ela possa ser encontrada, bem como sua relação
com a humanidade, expressa e registrada em evidências de sua manifestação.
Anselmo de Cantuária[1], autor do texto acima, parecia
entender isso perfeitamente. Ao pedir para enxergar a luz de Deus e não o
próprio Deus, ele reconhece que apenas a manifestação divina pode ser
percebida, dada a profunda e intransponível distância que nos separa do
Criador. Mais importante, Anselmo compreende que a iniciativa de se revelar
emana do próprio Deus: "mostra-te a mim que te procuro." O caminho
para tal conhecimento também depende da orientação divina: "sequer posso
procurar-te se não me ensinares a maneira." O labor teológico se
fundamenta na revelação de Deus, que atende aos seus propósitos e jamais se
limita à especulação humana.
1. Mas então, como se labora uma
teologia?
Dado que Deus, em sua magnificência,
não pode ser objeto direto de estudo, a revelação e a relação de Deus com a
humanidade tornam-se nosso material de investigação. Mas onde procurar essa
revelação e os indícios dessa relação com a humanidade?
“Para o cumprimento de sua missão, o teólogo, como um investigador, se baseia em evidências a fim de formular suas hipóteses.”
Elisa
Rodrigues; em
O que é Teologia?
Coleção Teologia ao Alcance de Todos
- MK Editora
Duas ressalvas são pertinentes para manter a coerência de nossa tarefa. A primeira refere-se ao exercício teológico encontrado em diversas civilizações, antigas e contemporâneas, que são importantes e colaborativas, mas serão deixadas de lado temporariamente para focarmos no labor teológico cristão. A segunda ressalva relaciona-se ao significado da palavra 'evidência' no contexto coloquial, que difere significativamente do contexto forense. No texto em destaque, 'evidência' refere-se a material para investigação, alinhando-se mais ao entendimento forense de evidência circunstancial[2]. Esse sentido permite uma abordagem investigativa e analítica necessária ao estudo teológico.
Então, quais são as evidências sobre
as quais podemos exercer a tarefa de pensar em Deus, através de sua revelação e
relação com a humanidade? Como identificar que um fato ou circunstância é uma
revelação ou evidência dessa relação?
“19 Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. 20 Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis;”
Romanos 1:19-20 - JFA
“1 Os céus revelam a glória de Deus, o firmamento proclama a obra de suas mãos. 2 Um dia discursa sobre isso a outro dia, e uma noite compartilha conhecimento com outra noite. 3 Não há termos, não há palavras, nenhuma voz que deles se ouça; 4 entretanto, sua linguagem é transmitida por toda a terra, e sua mensagem, até aos confins do mundo.”
Salmos 19:1-4a - KJA
A primeira evidência que podemos
destacar, com base nas indicações dos autores bíblicos, é a natureza criada.
Algumas pessoas podem considerar essa evidência insuficiente para revelar todos
os atributos de Deus, acreditando que ela apenas indica Seu poder criador. No
entanto, Paulo discorda dessa visão, argumentando que a criação é suficiente
para conhecer Deus e prestar-lhe culto, reconhecendo a divindade manifestada na
natureza.
Ao examinarmos civilizações antigas,
encontramos um eco dessa percepção natural da divindade. A história dessas
culturas está repleta de divinizações de fenômenos naturais, elementos da
natureza e animais, atribuindo-lhes poderes divinos. Esse raciocínio inicial de
que a divindade estaria fora do homem, como algo completamente outro, mostra
que mesmo essas civilizações eram capazes de prestar culto a ídolos
divinizados. Paulo via que esse caminho poderia ser direcionado para o Deus
verdadeiro, pois a revelação natural esteve disponível por muito mais tempo do
que outras formas de revelação divina.
Assim como Paulo, o salmista Davi via
em seu cotidiano a declaração da glória de Deus através da criação. Sem
precisar de palavras ou vozes, a criação proclamava ao devotado rei Davi a
majestade do Deus Criador, sendo uma mensagem suficiente para todos os povos e
nações, em qualquer parte do planeta. No Salmo 19:1-4, Davi celebra como
"os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas
mãos."
Em nosso artigo "A Relevância de
um Deus Criador"[3], discutimos a importância
fundamental do conceito de Deus como Criador em todo o processo teológico.
Aceitando, portanto, a natureza criada como uma evidência primeira e suficiente
da revelação de Deus e de Seus atributos, que outras evidências poderíamos
considerar neste árduo, mas gratificante, empreendimento de conhecer a Deus?
Voltemos ao texto bíblico, deixando
de lado por um momento a criação. No Novo Testamento, Paulo escreve em Romanos
1:19-20 que "o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque
Deus lhes manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e
divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos
mediante as coisas criadas." Aqui, Paulo reitera que a criação é uma prova
visível dos atributos invisíveis de Deus.
“97 Quanto amo a tua Lei! Sobre ela reflito o dia inteiro! 98 Os teus mandamentos me fizeram mais sábio que meus adversários, porquanto estão sempre comigo. 99 Tornei-me mais perspicaz que todos os meus mestres, pois meditei em tuas prescrições.100 Tenho mais discernimento que os anciãos, pois obedeço aos teus preceitos. 101 Desviei meus pés de todas as trilhas do mal para guardar a tua Palavra! 102 Não me afasto de tuas ordenanças, pois tu mesmo me ensinas. 103 Quão doces são os teus decretos ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca. 104 Graças aos teus preceitos tenho entendimento; por isso, detesto todos os caminhos da mentira!”
Salmos 119:97-104 - KJA
Outra evidência bastante contundente
e amplamente utilizada é o próprio texto bíblico, que registra não apenas as
manifestações e revelações de Deus, mas também o exercício contínuo da relação
de Deus com a humanidade. A Bíblia nos permite adotar diversas abordagens e
métodos investigativos, ampliando a capacidade de elaborar argumentos
teológicos robustos. É importante ressaltar que há poucos registros escritos
sobre manifestações divinas além dos textos das civilizações antigas, aos quais
retornaremos mais adiante. No entanto, mesmo esses registros não diferem
significativamente dos relatos bíblicos em termos de possibilidades e variedade
de entendimento sobre o que Deus revela de si mesmo e como Ele se relaciona com
a humanidade. Observamos uma coincidência providencial na maioria das
civilizações: elas documentam um relacionamento entre a divindade e a
humanidade, demonstrando que o labor teológico está no caminho certo ao tentar
compreender o impacto dessa relação na existência humana, se há propósitos
claros nela, e quais são esses propósitos.
Concentrando-nos na Bíblia, veremos
em detalhes que ela possui um texto extremamente rico em registros de
revelações e ensinamentos divinos, que podem ser extraídos de maneira
concomitante ou isolada, de um único trecho ou de vários. Esses trechos são registros
complementares entre si e nunca contraditórios, sustentando a quase totalidade
das conclusões teológicas e servindo como orientação racional, mesmo que a fé
seja um ambiente e tema recorrente.
Além dessas evidências, existem
conteúdos multidisciplinares que colaboram significativamente com o labor
teológico. Pesquisas históricas, descobertas arqueológicas e até especulações
científicas podem apoiar a tarefa teológica de pensar em Deus. É crucial
lembrar que nenhum desses esforços precisa se esgotar em si mesmo.
A teologia é, por definição,
dinâmica, pois, embora trate do pensamento sobre o Imutável, lida com a
compreensão humana daquilo que é revelado sobre Ele. Por essa razão,
encontramos variações nos conceitos teológicos ao longo da história da
humanidade. Não que Deus se altere ou varie existencialmente, mas porque a
compreensão de sua revelação e relação com a humanidade influencia e é
influenciada pelas diferentes áreas do conhecimento humano, bem como pelos
contextos históricos, socioeconômicos e até políticos em que estão inseridos.
Dada a natureza dinâmica da teologia
e sua capacidade de acompanhar o pensamento humano contemporâneo, ela não pode
e nem deve se auto intitular como a detentora de uma verdade absoluta composta
por princípios insondáveis e inquestionáveis. O maior benefício do labor
teológico é justamente fomentar a condescendência e a tolerância em quem o
pratica, reconhecendo que estamos lidando com realidades muito mais elevadas do
que a compreensão humana limitada pode apreender ou definir em termos
complexos. Nossa linguagem será sempre insuficiente para expressar a grandeza
do que estudamos ou mesmo para explicar plenamente aquilo em que acreditamos.
Por isso, a comunicação da salvação se faz por meio de testemunho e
experiência, e a salvação se dá por conversão, não por convencimento.
Ao nos debruçarmos sobre a
complexidade e a profundidade da teologia, somos chamados a uma humildade
reverente diante do mistério divino. Nossa jornada de investigação e
contemplação não visa esgotar a vastidão do Ser divino, mas nos convida a um
contínuo aprofundamento no conhecimento de Deus, conforme Ele se revela. Ao
reconhecermos nossas limitações e a grandiosidade do objeto de nosso estudo,
cultivamos uma postura de adoração, gratidão e devoção. A teologia, assim, não
é apenas um exercício intelectual, mas uma prática espiritual que nos
transforma e nos aproxima cada vez mais do Criador. Que possamos sempre
procurar a luz divina com fervor, e
que, ao encontrá-la, sejamos transformados por seu amor infinito e
misericordioso.
[1]
Anselmo de Cantuária (1033-1109) foi um filósofo e teólogo cristão de grande
influência, nascido em Aosta, na atual Itália. Ele é amplamente reconhecido
como um dos fundadores da escolástica medieval, uma tradição que buscava
harmonizar a fé cristã com a razão filosófica. Anselmo é mais conhecido por
seus trabalhos na filosofia da religião e pela formulação do argumento
ontológico para a existência de Deus.
Anselmo continua a ser
estudado e respeitado por seu esforço em usar a razão para explorar e explicar
a fé cristã, mantendo um equilíbrio entre devoção religiosa e investigação
filosófica.
[2] No
contexto forense, "evidência circunstancial" refere-se a informações
e indícios que não provam diretamente um fato ou a culpa de uma pessoa, mas permitem
inferir ou sugerir uma conclusão com base em um conjunto de circunstâncias.
Esse tipo de evidência é indireta e exige que se tirem conclusões lógicas para
conectar os pontos e formar um quadro completo
domingo, 17 de janeiro de 2016
O que é Teologia e quem a pode realizar?
Revisado
e ampliado em 14/04/2024
Anteriormente, discutimos o prazer no labor teológico e a realização que ele traz a todos que o desempenham com alegria e satisfação; como em tudo na vida. Alegria é, de fato, um motor necessário para bons resultados. Mas qual é a intenção por trás desse labor teológico? O que exatamente é teologia e quais são seus objetivos? Ela é considerada uma ciência[1]? E, em caso afirmativo, que tipo de ciência seria? O fascínio que o conhecimento de Deus exerce sobre grande parte da população mundial nos motiva a nos aprofundarmos nessa direção, buscando fornecer alguma compreensão que seja, se não verdadeira, ao menos pertinente. Talvez possamos encontrar respostas, ainda que tateando[2].
Mas
afinal, o que é mesmo teologia?
Qualquer dicionário
teológico-filosófico[3] é capaz de nos elucidar essa
questão, desde que, mesmo com um esforço mínimo, se comprometa a esclarecer as
várias nuances do tema, que vão desde o significado do termo e sua origem até
as diferentes atribuições e contextos históricos pelos quais passou, seja influenciando
ou sendo influenciado.
Originada do grego e assim composta, TEO+LOGIA (théos=Deus;
lógos=estudo, discurso ou
raciocínio), a teologia pode ser claramente entendida como o estudo do conjunto de conhecimentos relativos a Deus, seus atributos
e sua relação com a humanidade. Simples, mas ao mesmo tempo bastante
elaborado.
Contrariando a lógica comum da
vaidade humana, que geralmente atribui glamour, saber exclusivo, e importância
essencial àquilo em que se dedica com afinco, gosto de entender a teologia como
o ato natural e quase intuitivo de pensar em Deus, qualquer que seja o
entendimento primordial que o indivíduo tenha sobre quem ou o que seja Deus.
E por que defendo isso? Porque,
independentemente da conclusão a que a investigação teológica possa chegar, o
objeto dessa mesma investigação, no caso Deus, permanece inalterado; imutável e
absoluto, invariável em sua essência e dinâmico em sua revelação, disponível
para ser conhecido, embora permaneça inexplicável. E tal conhecimento pode
advir tanto do esforço elucubrativo do estudioso quanto de uma abordagem
intuitiva e empírica. Deus não se esconde de ninguém[4], assim como não faz qualquer acepção
de pessoas[5].
Portanto, qualquer que seja a
conclusão a que o pensamento sobre Deus chegue, o simples ato de pensar sobre
Ele e em sua direção é, por assim dizer, teologia, uma vez que Deus foi o tema
que atraiu a atenção e o esforço do pensador, seja como objeto de interesse,
curiosidade ou como agente provocador da inquietação humana pelo relacionamento
efetivo e perene com Ele.
Em Introdução à Teologia Evangélica[6], Karl Barth[7] faz a seguinte explanação inicial:
“O
termo "teologia" parece indicar que ela, por ser uma ciência
particular (e muito particular!) visaria perceber, compreender e tematizar
Deus.
Mas
ao termo "Deus" podem ser atribuídos os mais variados sentidos.
Assim, também há muitas teologias diferentes. Não existe ser humano que, de
maneira consciente, inconsciente ou subconsciente, não tenha seu Deus ou seus
deuses como objeto de seu desejo e confiança mais elevados, como base de sua
vinculação e compromisso mais profundos. Nesse sentido, qualquer ser humano é
teólogo. E não há nem religião, nem filosofia, nem cosmovisão que - quer seja
profunda, quer superficial - não se relacione com alguma divindade,
interpretada e circunscrita desta ou daquela forma, e que, portanto, não seja
teologia. Isto se aplica..." "também a situações nas quais se nega a
existência dessa divindade; nestes casos o que acontece em termos práticos é
que exatamente a dignidade e função da divindade são transferidas à
"natureza", a um impulso vital inconsciente e amorfo, à
"razão", ao progresso, ao ser humano de pensamento e ação
progressista, ou, quiçá, a um "nada" redentor considerado destino
último do ser humano. Também tais ideologias aparentemente "ateias"
são teologia.”
op; pág.9, 9a. edição revisada -2007;EST, Editora Sinodal
Esse entendimento sobre o que vem a
ser teologia amplia consideravelmente o número de pessoas envolvidas em sua
prática, tornando o exercício teológico mais acessível e compreensível. Ele
transcende os limites das instituições acadêmicas, como universidades e
seminários, onde o conhecimento teológico costuma ser confinado, ensinado e
comunicado apenas por especialistas designados. Como Israel Belo[8] menciona no prefácio dos volumes da
coleção Teologia ao Alcance de Todos,
há uma necessidade premente de oferecer interação pertinente com o contexto contemporâneo,
fornecendo respostas "claras e precisas" às questões suscitadas pelo
avanço científico e tecnológico. Essa é uma responsabilidade da teologia, que
não pode ser laborada por poucos para quase nenhuns.
É claro, no entanto, que nem tudo são flores. O pensamento de Barth
que eu particularmente igualmente defendo, não é unanimidade entre
especialistas e teólogos. Há, portanto, os que não apenas divergem desse
entendimento, como também há os que são diametralmente contra ele, entendendo
que tão popularização da teologia, pode suscitar perigosas aberturas para
distorções, heresias e mal uso da Palavra, em benefício de aproveitadores e
oportunistas. Mas eu pergunto: Já não há e já não distorcem a Palavra conforme
suas conveniências?
Não existe uma lista específica de teólogos
que se opõem a Barth de forma unânime, mas podemos apontar algumas correntes
teológicas que eventualmente apresentariam visões contrárias, enriquecendo
nossa percepção mais ampla sobre o assunto. Cada uma delas pode oferecer
argumentos específicos baseados em suas próprias tradições, interpretações das
escrituras e preocupações teológicas. O debate me parece bem vindo.
Teologia Tradicional[9]
Essa corrente tende a enfatizar uma
compreensão mais estrita da teologia como o estudo sistemático da revelação
divina, muitas vezes centrada nas escrituras sagradas e na tradição da igreja.
Esses teólogos podem discordar da definição ampla de teologia como "todo e
qualquer pensamento sobre Deus", defendida por Barth, argumentando que tal
abordagem dilui a especificidade e a autoridade da tradição teológica. É
importante ressaltar que a Teologia Tradicional não é uma única abordagem
uniforme, mas sim uma categoria ampla que abrange uma variedade de perspectivas
teológicas dentro do Cristianismo, incluindo tradições como o Catolicismo
Romano, o Protestantismo Ortodoxo e o Anglicanismo, entre outros.
Teologia Reformada[10]
Dentro desta tradição, podem surgir
vozes críticas em relação a certos aspectos da teologia de Barth. Alguns
teólogos reformados, por exemplo, podem discordar de sua ênfase na soberania
divina e na ênfase na Palavra de Deus como a única fonte autoritativa de
conhecimento teológico. Em vez disso, eles podem enfatizar a importância da
confessionalidade reformada, a autoridade das confissões de fé e a necessidade
de uma abordagem mais centrada na Escritura.
Teólogos contemporâneos[11]
Dentro da teologia contemporânea, há
uma variedade de perspectivas e abordagens teológicas. Alguns teólogos podem
discordar das ideias de Barth com base em suas próprias interpretações das
escrituras, tradições teológicas ou filosofias religiosas. Suas críticas podem
variar dependendo de suas próprias convicções teológicas e metodológicas.
A partir dos anos que se seguiram à Reforma
Protestante, a Igreja Católica, seus oficiais e teólogos respeitados, acenaram
para o perigo da universalização do esforço interpretativo do texto bíblico
defendido então pelo movimento dissidente, defendendo que pessoas comuns não
estariam preparadas para a função de avaliação correta das Sagradas Escrituras.
A isso chamou de irresponsabilidade protestante[12], ressaltando que a tarefa querigmática[13] tanto quanto a interpretação e
ensino religioso, estava confiada tão somente aos seu líderes, considerando o
que chamavam de Tradição da Igreja. Olhando em retrospecto, me parece que o
receio estava concentrado na possibilidade libertadora que o conhecimento bíblico
poderia trazer a fiéis convenientemente conduzidos e influenciados[14]. Parece que tal receio e prática se
alastrou até mesmo por denominações evangélicas ao longo dos anos.
Entender a teologia como todo e
qualquer pensamento sobre Deus, no entanto, não diminui em nada sua importância
acadêmica, e muito menos impede que continuemos a considerá-la como ciência,
seguindo na busca por excelência na apuração e compreensão dos textos bíblicos.
Muito pelo contrário. À medida que o exercício teológico se estende aos
diversos núcleos e modelos de agrupamentos sociais, mais amplas se tornam suas
possibilidades e demanda por critérios capazes de compreender as diferentes
realidades da existência humana, enriquecendo o esforço teológico responsável que
lhe oriente a tarefa primordial. O que, no final de tudo, acaba por fortalecer o
empenho honesto em conhecer Deus.
Semelhante aos demais campos do
conhecimento humano, sempre haverá diferentes entendimentos, abordagens,
suspeitas e conclusões. Assim como temos engenheiros civis, técnicos em edificações,
mestres de obras, pedreiros e auxiliares de pedreiro, todos lidando com
construções em papéis e pertinências variadas e não menos necessárias ainda que
exigindo diferentes graus de qualificação, a teologia continuará a produzir
seus especialistas eruditos, mestres, sacerdotes, estudiosos e curiosos, cada
qual na medida de sua dedicação e vocação, mas todos igualmente envolvidos pela
mesma motivação primordial da fé.
Por fim, a vantagem de se ampliar a
abrangência do labor teológico, é
que, de sementes aleatoriamente espalhadas por pássaros, rios, ventos e outros eventuais
semeadores, surgem as densas e importantes florestas. A desvantagem? Teremos que
nos superar no cuidado de sua inevitável variedade de espécies e observar
diligentemente a totalidade de sua biodiversidade. Precisaremos cuidar do solo,
controlar pragas, podar galhos, varrer as folhas e cuidar do jardim[15]. Quem não quiser trabalho que não se
ofereça ao Reino.
[1]
A questão da teologia ser considerada uma ciência é objeto de debate entre os
estudiosos, com diferentes opiniões sobre o assunto. Alguns defendem que a
teologia pode ser considerada uma ciência legítima, enquanto outros discordam
dessa caracterização. Resumimos as posições de alguns estudiosos proeminentes
sobre o tema:
A favor:
·
Karl Barth:
Barth via a teologia como uma ciência legítima, embora reconhecesse que ela
tinha características únicas que a distinguia das ciências naturais. Ele
argumentava que a teologia era uma ciência porque tinha seu objeto próprio
(Deus) e empregava métodos racionais para investigá-lo.
·
Rudolf
Bultmann: Bultmann defendia que a teologia era uma ciência, mas uma ciência
humana, sujeita às limitações e condicionamentos da existência humana. Ele via
a teologia como uma disciplina acadêmica que podia ser estudada e praticada com
métodos científicos.
Contra:
·
Ludwig
Feuerbach: Feuerbach foi crítico da teologia e da religião em geral. Ele
argumentava que a teologia não era uma ciência verdadeira porque não se baseava
em evidências empíricas ou observações objetivas, mas sim em projeções humanas
de desejos e necessidades.
·
Sigmund
Freud: Freud via a religião e, por extensão, a teologia, como expressões de
desejos inconscientes e mecanismos de defesa psicológica. Ele considerava a
teologia como uma pseudociência que não podia ser submetida ao escrutínio
científico.
[2]
“Deus assim procedeu para que a humanidade o buscasse e provavelmente, como que
tateando, o pudesse encontrar, ainda que, de fato, não esteja distante de cada
um de nós;”; Atos 17:27 - KJA
[3]
Aqui três exemplos de dicionários teológicos-filosóficos que contêm explicações
sobre o significado de teologia:
1.
"Dicionário
Teológico Conciso" de Millard J. Erickson: Este dicionário oferece
definições claras e concisas de termos teológicos importantes, incluindo uma
explicação sobre o que é teologia.
2.
"Dicionário
de Teologia do Novo Testamento" de Colin Brown: Esta obra fornece uma
compreensão abrangente da teologia do Novo Testamento, incluindo uma definição
do termo "teologia" e sua importância no contexto bíblico.
3.
"Dicionário
de Teologia Evangélica" de Walter A. Elwell: Este dicionário oferece
uma visão geral da teologia evangélica, incluindo definições de termos
teológicos e uma explanação sobre o que constitui a teologia como disciplina
acadêmica e prática religiosa.
Esses dicionários são
recursos úteis para estudantes e estudiosos que desejam entender melhor o
significado e o contexto da teologia.
Parte superior do formulário
[4]
Embora a Bíblia não contenha uma declaração explícita de que "Deus não se
esconde de ninguém", há passagens que sugerem a disponibilidade de Deus
para aqueles que o buscam sinceramente. Aqui estão algumas referências bíblicas
pertinentes:
1.
Jeremias 29:13 (NVI): "Vocês me
procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração."
2.
Mateus 7:7-8 (NVI): "Peçam, e lhes será
dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta. Pois todo o que
pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será
aberta."
3.
Deuteronômio 4:29 (NVI): "Mas, se de lá
vocês buscarem o Senhor, o seu Deus, o encontrarão se o procurarem de todo o
coração e de toda a alma."
Essas passagens sugerem que
Deus está disponível para aqueles que o buscam sinceramente, e que Ele se
revela àqueles que o procuram de coração aberto e com diligência.
[5]
A afirmação de que "Deus não faz acepção de pessoas" é encontrada em
várias passagens bíblicas. Aqui estão algumas delas:
1.
Atos dos Apóstolos 10:34-35 (NVI):
"Então Pedro começou a falar: 'Agora percebo verdadeiramente que Deus não
faz acepção de pessoas, mas aceita os que o temem e praticam a justiça, sejam
de que nação forem.'"
2.
Romanos 2:11 (NVI): "Pois Deus não faz
acepção de pessoas."
3.
Gálatas 3:28 (NVI): "Não há judeu nem
grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo
Jesus."
4.
Efésios 6:9 (NVI): "E vocês, senhores,
tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem
que o mesmo Senhor deles e de vocês está no céu, e ele não faz acepção de
pessoas."
Essas passagens enfatizam a
imparcialidade de Deus em relação às pessoas, destacando que Ele valoriza a fé,
a justiça e a reverência independentemente da origem étnica, social ou
cultural.
[6]
Nesta obra, Karl Barth apresenta uma explanação sobre a teologia evangélica,
discutindo temas fundamentais da fé cristã sob uma perspectiva teológica. É uma
introdução acessível e esclarecedora aos princípios e conceitos da teologia
apresentada apenas nos quatro Evangelhos.
[7]
Karl Barth foi um teólogo suíço, considerado um dos mais influentes do século
XX. Nasceu em 1886 e faleceu em 1968. Ele é conhecido principalmente por sua
obra monumental "Igreja Dogmática" (ou "Dogmática
Eclesiástica"), uma série de volumes que representam uma revisão radical
da teologia reformada tradicional. Barth é frequentemente associado à teologia
dialética, que enfatiza a tensão entre Deus e o ser humano, entre a revelação
divina e a limitação humana.
Sua teologia enfatizava a
soberania absoluta de Deus, a centralidade da revelação divina em Jesus Cristo
e a natureza exclusiva da fé como resposta à Palavra de Deus. Ele também foi um
crítico ferrenho do liberalismo teológico de sua época, argumentando que a
teologia deveria ser baseada na autoridade das Escrituras e na revelação
divina, em vez de na razão humana ou na cultura.
Barth teve uma grande
influência no pensamento teológico cristão do século XX e suas obras continuam
sendo objeto de estudo e debate até os dias de hoje. Ele foi professor em
diversas universidades e deixou um legado significativo não apenas na teologia
reformada, mas também na teologia em geral.
[8]
Israel Belo é um teólogo, escritor e pastor brasileiro, conhecido por suas
contribuições no campo da teologia prática e pela sua abordagem acessível aos
temas teológicos. Ele é graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil (STBSB) e possui mestrado em Teologia Pastoral pela Faculdade
Teológica Batista de São Paulo (FTBSP). Belo é autor de diversos livros,
incluindo obras de teologia pastoral, espiritualidade e aconselhamento cristão.
Ele também é pastor da Igreja Batista Itacuruçá, no Rio de Janeiro, onde
ministra e exerce seu pastoreio. Sua influência se estende além das fronteiras
denominacionais, sendo reconhecido por suas reflexões teológicas que dialogam com
o contexto contemporâneo.
[9]
A "Teologia Tradicional" é um termo amplo que se refere a uma
abordagem teológica que valoriza a continuidade com a tradição cristã
histórica, incluindo tanto os ensinamentos dos primeiros pais da igreja quanto
as formulações teológicas desenvolvidas ao longo dos séculos. Esta abordagem
teológica muitas vezes enfatiza a autoridade das Escrituras Sagradas, a
tradição da igreja, a razão e a experiência religiosa como fontes de
conhecimento teológico.
Alguns aspectos comuns da
Teologia Tradicional incluem:
1.
Ênfase na ortodoxia: A Teologia
Tradicional tende a defender e promover as doutrinas e ensinamentos
considerados ortodoxos pela tradição cristã histórica, incluindo a Trindade, a
Encarnação, a Expiação e a Ressurreição.
2.
Interpretação literal ou histórico-gramatical
das Escrituras: Muitos teólogos tradicionais adotam uma abordagem
hermenêutica que enfatiza a interpretação literal ou histórico-gramatical das
Escrituras, buscando entender o significado original dos textos bíblicos dentro
de seus contextos culturais, históricos e linguísticos.
3.
Uso de fontes complementares: Além das
Escrituras, a Teologia Tradicional muitas vezes recorre a outras fontes de
autoridade teológica, incluindo os escritos dos pais da igreja, os credos e
confissões de fé, os concílios ecumênicos e a tradição litúrgica.
4.
Abordagem sistemática: Muitos teólogos
tradicionais adotam uma abordagem sistemática para a teologia, organizando suas
reflexões teológicas em torno de temas centrais, como a doutrina de Deus, a
cristologia, a pneumatologia, a eclesiologia e a escatologia.
[10]
A Teologia Reformada, também conhecida como Calvinismo, é uma tradição
teológica dentro do Cristianismo Protestante que se baseia nos ensinamentos
teológicos de líderes como João Calvino, Ulrico Zwinglio, Martinho Lutero e
outros reformadores do século XVI. Esta tradição teológica é caracterizada por
várias ênfases distintas:
1.
Sovereignia de Deus (Soberania de Deus):
A Teologia Reformada enfatiza a soberania absoluta de Deus sobre todas as
coisas, incluindo a salvação. Isso se manifesta na doutrina da predestinação,
que sustenta que Deus, em sua soberania, escolheu desde a eternidade aqueles
que seriam salvos.
2.
Autoridade das Escrituras: Assim como
outras tradições protestantes, a Teologia Reformada enfatiza a autoridade
suprema das Escrituras Sagradas como a fonte final de autoridade em matéria de
fé e prática.
3.
Doutrina da Graça Irresistível: A
Teologia Reformada ensina que a graça de Deus é irresistível, o que significa
que aqueles a quem Deus escolheu para a salvação não podem resistir ao chamado
eficaz do Espírito Santo.
4.
Doutrina da Eleição Incondicional: A
Teologia Reformada defende a doutrina da eleição incondicional, que sustenta que
Deus escolheu soberanamente alguns indivíduos para a salvação, não com base em
mérito humano, mas de acordo com o seu propósito soberano.
5.
Doutrina da Expiação Limitada: A Teologia
Reformada ensina que a expiação de Cristo é eficaz apenas para os eleitos de
Deus, aqueles que foram predestinados para a salvação. Isso contrasta com a
visão arminiana de expiação universal.
6.
Ênfase na Glória de Deus: A Teologia
Reformada enfatiza a glória de Deus como o objetivo final de todas as coisas,
incluindo a salvação dos eleitos.
[11]
A Teologia Contemporânea é uma área da teologia que se concentra nos debates,
questões e desenvolvimentos teológicos que ocorreram desde meados do século XX
até os dias atuais. Esta abordagem teológica reflete as preocupações, contextos
e desafios enfrentados pela igreja e pela sociedade contemporânea.
Alguns aspectos que
caracterizam a Teologia Contemporânea incluem:
1.
Contextualização: A Teologia
Contemporânea reconhece a importância de contextualizar a mensagem teológica
para diferentes contextos culturais, sociais e históricos. Isso envolve uma
abordagem interdisciplinar que incorpora insights da sociologia, antropologia,
ciências políticas, entre outras áreas.
2.
Diálogo Inter-religioso e Interdisciplinar:
A Teologia Contemporânea promove o diálogo e o engajamento com outras tradições
religiosas, bem como com outras disciplinas acadêmicas, buscando compreender e
responder aos desafios do mundo contemporâneo de forma ampla e inclusiva.
3.
Questões Sociais e Políticas: Esta
abordagem teológica aborda questões sociais e políticas urgentes, como justiça
social, direitos humanos, desigualdade econômica, ecologia e questões de
gênero. Ela busca aplicar os ensinamentos éticos e morais da fé cristã para
enfrentar esses desafios.
4.
Pluralismo Teológico: A Teologia
Contemporânea reconhece a diversidade de perspectivas teológicas dentro do
Cristianismo e além dele. Ela valoriza a pluralidade de vozes teológicas e
incentiva o diálogo e a cooperação entre diferentes tradições e abordagens
teológicas.
5.
Reavaliação das Doutrinas Tradicionais:
Esta abordagem teológica muitas vezes envolve uma reavaliação crítica das
doutrinas tradicionais à luz das questões contemporâneas e das descobertas
científicas. Isso pode incluir uma reinterpretação das Escrituras e uma nova
compreensão de conceitos como salvação, expiação, trindade, entre outros.
[12]
A "irresponsabilidade protestante" era o termo usado historicamente
pela Igreja Católica para criticar a interpretação individual das Escrituras
pelos fiéis protestantes. A Igreja argumentava que os leigos não estavam
preparados para interpretar corretamente as Sagradas Escrituras e que essa
prática poderia levar a interpretações distorcidas e divisões na fé cristã.
Assim, defendia que apenas os líderes da igreja, como os clérigos e teólogos,
deveriam ter o papel de interpretar e ensinar a religião, mantendo a tradição da
igreja como autoridade final. Essa visão enfatizava a importância do controle e
da autoridade centralizada na igreja institucional.
[13]
A Tarefa Querigmática refere-se à proclamação do Evangelho, à pregação da
mensagem central do Cristianismo, que inclui a apresentação de Jesus Cristo
como Salvador e Senhor, o chamado ao arrependimento e a oferta de salvação pela
graça mediante a fé. Essa tarefa é central na missão da igreja e visa a
transformação espiritual e moral das pessoas, bem como o estabelecimento do
Reino de Deus na Terra.
[14]
É importante observar que a compreensão da história da interpretação bíblica e
das relações entre catolicismo e protestantismo é complexa e multifacetada. Nuances
teológicas, históricas e sociais precisam ser acrescentadas nesse debate. No
entanto, deixaremos esta questão para mais adiante.
[15]
Gênesis 2:15 (NVI): "O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para
cuidar dele e cultivá-lo."