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terça-feira, 15 de março de 2016

Conhecer o que cremos. Um delicioso e inesgotável exercício


Por Jânsen Leiros Jr.


“antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,”
                   1 Pedro 3:15 – RA


“Não estudamos para crer; estudamos porque cremos”
                   Anselmo de Cantuária

Um dos mais espetaculares privilégios do cristianismo é a liberdade que temos de acessar, meditar e estudar a Bíblia, crida por nós como a Palavra de Deus. Negada por séculos aos cristãos comuns, sendo restritivamente liberada apenas a párocos, professores ou teólogos, a leitura pessoal e individual da Bíblia foi popularizada desde o advento da Reforma Protestante, que entendeu como responsabilidade estendida a cada cristão, aprender de Deus e crescer no seu conhecimento, a partir do exercício da leitura devocional e do estudo piedoso do texto bíblico.

Pelo hábito de consultar a Bíblia, fosse em culto, fosse na leitura pessoal, por anos carregamos esse livro de capa preta embaixo do braço, motivo pelo qual éramos apontados e chamados pejorativamente de “Bíblias”. Uns envergonhavam-se, outros se orgulhavam. Mas na prática tínhamos uma identidade que trazia ao homem natural, por mais que discordasse de nossos modelos e hábitos, a idéia de que o costume de estudar a Bíblia era uma característica nossa. E como era comum sermos abordados, até por chacota, para que elucidássemos, pelo conhecimento bíblico presumido, uma questão religiosa qualquer, ou um princípio ético de difícil compreensão. - Pergunta ali pro crente. Ele deve saber...

O avanço tecnológico nos presenteou com facilidades maravilhosas. E hoje, em vez de carregarmos a Bíblia para todos os lugares, podemos carregar dentro de um só equipamento, não só uma bíblia inteira, mas quantas Bíblias quisermos. De variadas versões, edições comentadas, edições em linguagem coloquial, sistema de busca... As gincanas que fazíamos na adolescência para ver quem abria a Bíblia mais rapidamente, perderam completamente o sentido! Tudo está ao alcance das mãos, a um simples toque dos dedos. Ficou tudo muito mais fácil.

Acontece, contudo, que paradoxalmente tendo à mão todos os recursos para lermos, estudarmos e nos deleitarmos na leitura bíblica, trocamos os textos e os contextos da narrativa bíblica, por consumíveis palavras de ordem, frases feitas, conceitos enxertados, que nenhum contato têm com a piedade, senão o de criar uma aparência superficial de religiosidade, mantendo a maioria de nossa gente numa devoção delirante e num conhecimento raso da vontade e do conhecimento de Deus.


6 Estou muito admirado com vocês, pois estão abandonando tão depressa aquele que os chamou por meio da graça de Cristo e estão aceitando outro evangelho. 7 Na verdade não existe outro evangelho, porém eu falo assim porque há algumas pessoas que estão perturbando vocês, querendo mudar o evangelho de Cristo. 8 Mas, se alguém, mesmo que sejamos nós ou um anjo do céu, anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que temos anunciado, que seja amaldiçoado! 9 Pois já dissemos antes e repetimos: se alguém anunciar um evangelho diferente daquele que vocês aceitaram, que essa pessoa seja amaldiçoada! 10 Por acaso eu procuro a aprovação das pessoas? Não! O que eu quero é a aprovação de Deus. Será que agora estou querendo agradar as pessoas? Se estivesse, eu não seria servo de Cristo.”
                   Gálatas 1:6-10 - NTLH

O que buscamos com isso? Onde queremos chegar? O que temos para apresentar ao mundo sobre a esperança que há em nós? E o que é que esperamos? No que é que cremos? O mundo continua sedento por uma mensagem penetrante e transformadora. Que lhes confronte a realidade de uma vida sem a comunhão com Deus, sem a salvação em Cristo Jesus, e sem as consolações do Espírito Santo. A cruz e a ressurreição sumiram de nossa pregação, que se voltou a aproximar a mensagem de um evangelho hedonista, aos hábitos e desejos do homem natural, à imagem e semelhança de suas impiedades, capaz de envolvê-los e cativá-los.

E o que foi que nos trouxe a esse estado de superficialidade? O abandono da leitura da Bíblia e do aprofundamento no entendimento de sua doutrina. Trocamos o efeito do crescimento no conhecimento de Deus, pelas frases de efeito que atrofiam membros, mente e alimentam apenas o coração enganoso.


1 Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: 2 prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. 3 Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; 4 e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. 5 Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério..”
                   2 Timóteo 4:1-5 - RA

O que tememos ao pregar o evangelho da cruz e da ressurreição? Rejeição? Ora, não é da cruz e da ressurreição que somos testemunhas? Não pode nos assustar a rejeição, assim como não nos deve causar medo a discriminação, o isolamento, a perseguição e a dor por amor a Cristo e por nossa submissão a Deus. Pois fomos chamados para anunciar uma vida plena e abundante na comunhão com Deus, e não uma vida em conta gotas, que se alimenta de pequenas doses de falácias e afirmações fugazes, que não podem levar ninguém à reflexão e ao confronto com sua realidade mais íntima. 

Que o Senhor que se empenhou em nos oferecer de si mesmo em sua Palavra e em Cristo, nos inspire a um profundo e inesgotável desejo pelo retorno à Bíblia, para que a carreira que nos está proposta seja enriquecida pelo aprofundamento no conhecimento do Santo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Pilares de um labor teológico


Por Jânsen Leiros Jr.

Seguimos em nosso propósito de tornar a teologia mais palatável a todo e qualquer interessado em seus temas, abordagens, e modo de enxergar a vida. E nesse impulso, precisamos lançar algumas bases que nos ajudem a, ainda que mantendo o frescor de uma argumentação acessível, sustentar e guiar nossas investigações pelo universo teológico.

Nesse aspecto, é preciso ter em mente que todo e qualquer empreendimento humano se sustenta em pressupostos ou intenções que norteiam tal empenho. No desenvolvimento de determinado projeto, o método é sempre um orientador importante, que estabelece as bases sobre as quais se definirá o modelo e a estruturação do que se pretende realizar.

No caso do estudo teológico, alguns aspectos devem servir de pilares para que o estudo não se perca de seu objetivo primordial, nem acabe por desviar-se de princípios elementares, próprios de um labor teológico.

Assim, ainda que eu tenha profunda resistência a afirmações quantitativas que estabeleçam a ideia de totalidade das possibilidades, destacamos cinco pilares que entendemos exigíveis:

1.  Pertinência

Ainda que a teologia se origine no tema e se desenvolva em direção ao texto bíblico que o sustenta, a análise desse mesmo texto e sua aplicabilidade na sustentação do pressuposto, não só não pode ser influenciada pelo objeto tese original, como também não pode ser sugestionada por qualquer outra conceituação filosófica, que desloque sua interpretação ou propósito central, adequando-o a ideologias outras.


2.  Contexto histórico
A tradição teológica pode ser considerada na análise de qualquer tema. Mas não deve ser considerada absoluta, ainda que a pretexto de uma apologética clássica e conservadora. Porém, a observação da interpretação teológica contextualizada em diferentes momentos da história, pode delinear conceitos de viés transcendente de percepções confiáveis.

 3.  Atualidade
Seja qual for a concepção teológica, suas verdades precisam ter aplicação e relevância contemporâneas. Suas afirmações precisam dialogar com as vertentes existenciais de sua época, sendo capazes de promover reflexão e fortalecimento da fé.




4.  Amplitude e profundidade
A superficialidade teológica é inaceitável na sua exposição, tanto quanto um raciocínio simplório no labor do teólogo. Uma vez iniciada a investigação, o teólogo só pode dar-se por satisfeito, quando todas as perguntas estiverem coerentemente respondidas, por argumentos aceitáveis ou não contraditórios. Ainda que o enunciado da afirmação teológica resuma bem o conteúdo comunicado, a sustentação precisa estar preparada para um aprofundamento eventualmente proposto.

5.  Coragem

A timidez não combina com a comunicação teológica. Menos ainda o medo do julgamento alheio ou da crítica de quem quer que seja. Todo o labor teológico tem em seu estímulo mais básico, um impulso profético. Assim, não é aceitável que o resultado desse esforço seja escondido pelo receio da impopularidade. Qualquer posicionamento firmado ensejará confrontação divergente.

Estes assim chamados pilares, deverão permear todo o exercício teológico que faremos daqui pra frente. E a eles sempre retornaremos, à medida que nossas próprias convicções necessitarem de validação quanto aos seus requerimentos.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Mas então, como se labora Teologia?

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 16/05/2024

 

“Ó Senhor... Seja-me permitido enxergar a tua luz, embora de tão longe e desta profundidade. Ensina-me como procurar-te e mostra-te a mim que te procuro. Pois, sequer posso procurar-te se não me ensinares a maneira, nem encontrar-te se não te mostrares. Que eu possa procurar-te desejando-te, e desejar-te ao procurar-te, e encontrar-te amando-te, e amar-te ao te encontrar”

Anselmo de Cantuária - 1078 - destaque; em O que é Teologia?

Coleção Teologia ao Alcance de Todos - MK Editora

 

Seguindo nosso posicionamento explicado no capítulo anterior, embora consideremos teologia como o ato simples mas voluntário de pensar em Deus, Ele mesmo, Deus, não pode ser objeto material de nosso labor teológico, uma vez que nenhum dos nossos sentidos o pode limitar ou definir em forma ou essência. O objeto do empreendimento teológico é, antes, a revelação de Deus, onde e como ela possa ser encontrada, bem como sua relação com a humanidade, expressa e registrada em evidências de sua manifestação.

Anselmo de Cantuária[1], autor do texto acima, parecia entender isso perfeitamente. Ao pedir para enxergar a luz de Deus e não o próprio Deus, ele reconhece que apenas a manifestação divina pode ser percebida, dada a profunda e intransponível distância que nos separa do Criador. Mais importante, Anselmo compreende que a iniciativa de se revelar emana do próprio Deus: "mostra-te a mim que te procuro." O caminho para tal conhecimento também depende da orientação divina: "sequer posso procurar-te se não me ensinares a maneira." O labor teológico se fundamenta na revelação de Deus, que atende aos seus propósitos e jamais se limita à especulação humana.

1.  Mas então, como se labora uma teologia?

Dado que Deus, em sua magnificência, não pode ser objeto direto de estudo, a revelação e a relação de Deus com a humanidade tornam-se nosso material de investigação. Mas onde procurar essa revelação e os indícios dessa relação com a humanidade?

“Para o cumprimento de sua missão, o teólogo, como um investigador, se baseia em evidências a fim de formular suas hipóteses.”

Elisa Rodrigues; em O que é Teologia?

Coleção Teologia ao Alcance de Todos - MK Editora

Duas ressalvas são pertinentes para manter a coerência de nossa tarefa. A primeira refere-se ao exercício teológico encontrado em diversas civilizações, antigas e contemporâneas, que são importantes e colaborativas, mas serão deixadas de lado temporariamente para focarmos no labor teológico cristão. A segunda ressalva relaciona-se ao significado da palavra 'evidência' no contexto coloquial, que difere significativamente do contexto forense. No texto em destaque, 'evidência' refere-se a material para investigação, alinhando-se mais ao entendimento forense de evidência circunstancial[2]. Esse sentido permite uma abordagem investigativa e analítica necessária ao estudo teológico.

Então, quais são as evidências sobre as quais podemos exercer a tarefa de pensar em Deus, através de sua revelação e relação com a humanidade? Como identificar que um fato ou circunstância é uma revelação ou evidência dessa relação?

19 Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. 20 Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis;”

Romanos 1:19-20 - JFA


1 Os céus revelam a glória de Deus, o firmamento proclama a obra de suas mãos. 2 Um dia discursa sobre isso a outro dia, e uma noite compartilha conhecimento com outra noite. 3 Não há termos, não há palavras, nenhuma voz que deles se ouça; 4 entretanto, sua linguagem é transmitida por toda a terra, e sua mensagem, até aos confins do mundo.”

Salmos 19:1-4a - KJA

A primeira evidência que podemos destacar, com base nas indicações dos autores bíblicos, é a natureza criada. Algumas pessoas podem considerar essa evidência insuficiente para revelar todos os atributos de Deus, acreditando que ela apenas indica Seu poder criador. No entanto, Paulo discorda dessa visão, argumentando que a criação é suficiente para conhecer Deus e prestar-lhe culto, reconhecendo a divindade manifestada na natureza.

Ao examinarmos civilizações antigas, encontramos um eco dessa percepção natural da divindade. A história dessas culturas está repleta de divinizações de fenômenos naturais, elementos da natureza e animais, atribuindo-lhes poderes divinos. Esse raciocínio inicial de que a divindade estaria fora do homem, como algo completamente outro, mostra que mesmo essas civilizações eram capazes de prestar culto a ídolos divinizados. Paulo via que esse caminho poderia ser direcionado para o Deus verdadeiro, pois a revelação natural esteve disponível por muito mais tempo do que outras formas de revelação divina.

Assim como Paulo, o salmista Davi via em seu cotidiano a declaração da glória de Deus através da criação. Sem precisar de palavras ou vozes, a criação proclamava ao devotado rei Davi a majestade do Deus Criador, sendo uma mensagem suficiente para todos os povos e nações, em qualquer parte do planeta. No Salmo 19:1-4, Davi celebra como "os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos."

Em nosso artigo "A Relevância de um Deus Criador"[3], discutimos a importância fundamental do conceito de Deus como Criador em todo o processo teológico. Aceitando, portanto, a natureza criada como uma evidência primeira e suficiente da revelação de Deus e de Seus atributos, que outras evidências poderíamos considerar neste árduo, mas gratificante, empreendimento de conhecer a Deus?

Voltemos ao texto bíblico, deixando de lado por um momento a criação. No Novo Testamento, Paulo escreve em Romanos 1:19-20 que "o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas." Aqui, Paulo reitera que a criação é uma prova visível dos atributos invisíveis de Deus.

97 Quanto amo a tua Lei! Sobre ela reflito o dia inteiro! 98 Os teus mandamentos me fizeram mais sábio que meus adversários, porquanto estão sempre comigo. 99 Tornei-me mais perspicaz que todos os meus mestres, pois meditei em tuas prescrições.100 Tenho mais discernimento que os anciãos, pois obedeço aos teus preceitos. 101 Desviei meus pés de todas as trilhas do mal para guardar a tua Palavra! 102 Não me afasto de tuas ordenanças, pois tu mesmo me ensinas. 103 Quão doces são os teus decretos ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca. 104 Graças aos teus preceitos tenho entendimento; por isso, detesto todos os caminhos da mentira!”

Salmos 119:97-104 - KJA

Outra evidência bastante contundente e amplamente utilizada é o próprio texto bíblico, que registra não apenas as manifestações e revelações de Deus, mas também o exercício contínuo da relação de Deus com a humanidade. A Bíblia nos permite adotar diversas abordagens e métodos investigativos, ampliando a capacidade de elaborar argumentos teológicos robustos. É importante ressaltar que há poucos registros escritos sobre manifestações divinas além dos textos das civilizações antigas, aos quais retornaremos mais adiante. No entanto, mesmo esses registros não diferem significativamente dos relatos bíblicos em termos de possibilidades e variedade de entendimento sobre o que Deus revela de si mesmo e como Ele se relaciona com a humanidade. Observamos uma coincidência providencial na maioria das civilizações: elas documentam um relacionamento entre a divindade e a humanidade, demonstrando que o labor teológico está no caminho certo ao tentar compreender o impacto dessa relação na existência humana, se há propósitos claros nela, e quais são esses propósitos.

Concentrando-nos na Bíblia, veremos em detalhes que ela possui um texto extremamente rico em registros de revelações e ensinamentos divinos, que podem ser extraídos de maneira concomitante ou isolada, de um único trecho ou de vários. Esses trechos são registros complementares entre si e nunca contraditórios, sustentando a quase totalidade das conclusões teológicas e servindo como orientação racional, mesmo que a fé seja um ambiente e tema recorrente.

Além dessas evidências, existem conteúdos multidisciplinares que colaboram significativamente com o labor teológico. Pesquisas históricas, descobertas arqueológicas e até especulações científicas podem apoiar a tarefa teológica de pensar em Deus. É crucial lembrar que nenhum desses esforços precisa se esgotar em si mesmo.

A teologia é, por definição, dinâmica, pois, embora trate do pensamento sobre o Imutável, lida com a compreensão humana daquilo que é revelado sobre Ele. Por essa razão, encontramos variações nos conceitos teológicos ao longo da história da humanidade. Não que Deus se altere ou varie existencialmente, mas porque a compreensão de sua revelação e relação com a humanidade influencia e é influenciada pelas diferentes áreas do conhecimento humano, bem como pelos contextos históricos, socioeconômicos e até políticos em que estão inseridos.

Dada a natureza dinâmica da teologia e sua capacidade de acompanhar o pensamento humano contemporâneo, ela não pode e nem deve se auto intitular como a detentora de uma verdade absoluta composta por princípios insondáveis e inquestionáveis. O maior benefício do labor teológico é justamente fomentar a condescendência e a tolerância em quem o pratica, reconhecendo que estamos lidando com realidades muito mais elevadas do que a compreensão humana limitada pode apreender ou definir em termos complexos. Nossa linguagem será sempre insuficiente para expressar a grandeza do que estudamos ou mesmo para explicar plenamente aquilo em que acreditamos. Por isso, a comunicação da salvação se faz por meio de testemunho e experiência, e a salvação se dá por conversão, não por convencimento.

Ao nos debruçarmos sobre a complexidade e a profundidade da teologia, somos chamados a uma humildade reverente diante do mistério divino. Nossa jornada de investigação e contemplação não visa esgotar a vastidão do Ser divino, mas nos convida a um contínuo aprofundamento no conhecimento de Deus, conforme Ele se revela. Ao reconhecermos nossas limitações e a grandiosidade do objeto de nosso estudo, cultivamos uma postura de adoração, gratidão e devoção. A teologia, assim, não é apenas um exercício intelectual, mas uma prática espiritual que nos transforma e nos aproxima cada vez mais do Criador. Que possamos sempre procurar a luz divina com fervor, e que, ao encontrá-la, sejamos transformados por seu amor infinito e misericordioso.



[1] Anselmo de Cantuária (1033-1109) foi um filósofo e teólogo cristão de grande influência, nascido em Aosta, na atual Itália. Ele é amplamente reconhecido como um dos fundadores da escolástica medieval, uma tradição que buscava harmonizar a fé cristã com a razão filosófica. Anselmo é mais conhecido por seus trabalhos na filosofia da religião e pela formulação do argumento ontológico para a existência de Deus.

Anselmo continua a ser estudado e respeitado por seu esforço em usar a razão para explorar e explicar a fé cristã, mantendo um equilíbrio entre devoção religiosa e investigação filosófica.

[2] No contexto forense, "evidência circunstancial" refere-se a informações e indícios que não provam diretamente um fato ou a culpa de uma pessoa, mas permitem inferir ou sugerir uma conclusão com base em um conjunto de circunstâncias. Esse tipo de evidência é indireta e exige que se tirem conclusões lógicas para conectar os pontos e formar um quadro completo

domingo, 17 de janeiro de 2016

O que é Teologia e quem a pode realizar?

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 14/04/2024

            Anteriormente, discutimos o prazer no labor teológico e a realização que ele traz a todos que o desempenham com alegria e satisfação; como em tudo na vida. Alegria é, de fato, um motor necessário para bons resultados. Mas qual é a intenção por trás desse labor teológico? O que exatamente é teologia e quais são seus objetivos? Ela é considerada uma ciência[1]? E, em caso afirmativo, que tipo de ciência seria? O fascínio que o conhecimento de Deus exerce sobre grande parte da população mundial nos motiva a nos aprofundarmos nessa direção, buscando fornecer alguma compreensão que seja, se não verdadeira, ao menos pertinente. Talvez possamos encontrar respostas, ainda que tateando[2].

Mas afinal, o que é mesmo teologia?

Qualquer dicionário teológico-filosófico[3] é capaz de nos elucidar essa questão, desde que, mesmo com um esforço mínimo, se comprometa a esclarecer as várias nuances do tema, que vão desde o significado do termo e sua origem até as diferentes atribuições e contextos históricos pelos quais passou, seja influenciando ou sendo influenciado.

Originada do grego e assim composta, TEO+LOGIA (théos=Deus; lógos=estudo, discurso ou raciocínio), a teologia pode ser claramente entendida como o estudo do conjunto de conhecimentos relativos a Deus, seus atributos e sua relação com a humanidade. Simples, mas ao mesmo tempo bastante elaborado.

Contrariando a lógica comum da vaidade humana, que geralmente atribui glamour, saber exclusivo, e importância essencial àquilo em que se dedica com afinco, gosto de entender a teologia como o ato natural e quase intuitivo de pensar em Deus, qualquer que seja o entendimento primordial que o indivíduo tenha sobre quem ou o que seja Deus.

E por que defendo isso? Porque, independentemente da conclusão a que a investigação teológica possa chegar, o objeto dessa mesma investigação, no caso Deus, permanece inalterado; imutável e absoluto, invariável em sua essência e dinâmico em sua revelação, disponível para ser conhecido, embora permaneça inexplicável. E tal conhecimento pode advir tanto do esforço elucubrativo do estudioso quanto de uma abordagem intuitiva e empírica. Deus não se esconde de ninguém[4], assim como não faz qualquer acepção de pessoas[5].

Portanto, qualquer que seja a conclusão a que o pensamento sobre Deus chegue, o simples ato de pensar sobre Ele e em sua direção é, por assim dizer, teologia, uma vez que Deus foi o tema que atraiu a atenção e o esforço do pensador, seja como objeto de interesse, curiosidade ou como agente provocador da inquietação humana pelo relacionamento efetivo e perene com Ele.

Em Introdução à Teologia Evangélica[6], Karl Barth[7] faz a seguinte explanação inicial:

“O termo "teologia" parece indicar que ela, por ser uma ciência particular (e muito particular!) visaria perceber, compreender e tematizar Deus.

Mas ao termo "Deus" podem ser atribuídos os mais variados sentidos. Assim, também há muitas teologias diferentes. Não existe ser humano que, de maneira consciente, inconsciente ou subconsciente, não tenha seu Deus ou seus deuses como objeto de seu desejo e confiança mais elevados, como base de sua vinculação e compromisso mais profundos. Nesse sentido, qualquer ser humano é teólogo. E não há nem religião, nem filosofia, nem cosmovisão que - quer seja profunda, quer superficial - não se relacione com alguma divindade, interpretada e circunscrita desta ou daquela forma, e que, portanto, não seja teologia. Isto se aplica..." "também a situações nas quais se nega a existência dessa divindade; nestes casos o que acontece em termos práticos é que exatamente a dignidade e função da divindade são transferidas à "natureza", a um impulso vital inconsciente e amorfo, à "razão", ao progresso, ao ser humano de pensamento e ação progressista, ou, quiçá, a um "nada" redentor considerado destino último do ser humano. Também tais ideologias aparentemente "ateias" são teologia.”

op; pág.9, 9a. edição revisada -2007;EST, Editora Sinodal

Esse entendimento sobre o que vem a ser teologia amplia consideravelmente o número de pessoas envolvidas em sua prática, tornando o exercício teológico mais acessível e compreensível. Ele transcende os limites das instituições acadêmicas, como universidades e seminários, onde o conhecimento teológico costuma ser confinado, ensinado e comunicado apenas por especialistas designados. Como Israel Belo[8] menciona no prefácio dos volumes da coleção Teologia ao Alcance de Todos, há uma necessidade premente de oferecer interação pertinente com o contexto contemporâneo, fornecendo respostas "claras e precisas" às questões suscitadas pelo avanço científico e tecnológico. Essa é uma responsabilidade da teologia, que não pode ser laborada por poucos para quase nenhuns.

É claro, no entanto, que nem tudo são flores. O pensamento de Barth que eu particularmente igualmente defendo, não é unanimidade entre especialistas e teólogos. Há, portanto, os que não apenas divergem desse entendimento, como também há os que são diametralmente contra ele, entendendo que tão popularização da teologia, pode suscitar perigosas aberturas para distorções, heresias e mal uso da Palavra, em benefício de aproveitadores e oportunistas. Mas eu pergunto: Já não há e já não distorcem a Palavra conforme suas conveniências?

Não existe uma lista específica de teólogos que se opõem a Barth de forma unânime, mas podemos apontar algumas correntes teológicas que eventualmente apresentariam visões contrárias, enriquecendo nossa percepção mais ampla sobre o assunto. Cada uma delas pode oferecer argumentos específicos baseados em suas próprias tradições, interpretações das escrituras e preocupações teológicas. O debate me parece bem vindo.

Teologia Tradicional[9]

Essa corrente tende a enfatizar uma compreensão mais estrita da teologia como o estudo sistemático da revelação divina, muitas vezes centrada nas escrituras sagradas e na tradição da igreja. Esses teólogos podem discordar da definição ampla de teologia como "todo e qualquer pensamento sobre Deus", defendida por Barth, argumentando que tal abordagem dilui a especificidade e a autoridade da tradição teológica. É importante ressaltar que a Teologia Tradicional não é uma única abordagem uniforme, mas sim uma categoria ampla que abrange uma variedade de perspectivas teológicas dentro do Cristianismo, incluindo tradições como o Catolicismo Romano, o Protestantismo Ortodoxo e o Anglicanismo, entre outros.

Teologia Reformada[10]

Dentro desta tradição, podem surgir vozes críticas em relação a certos aspectos da teologia de Barth. Alguns teólogos reformados, por exemplo, podem discordar de sua ênfase na soberania divina e na ênfase na Palavra de Deus como a única fonte autoritativa de conhecimento teológico. Em vez disso, eles podem enfatizar a importância da confessionalidade reformada, a autoridade das confissões de fé e a necessidade de uma abordagem mais centrada na Escritura.

Teólogos contemporâneos[11]

Dentro da teologia contemporânea, há uma variedade de perspectivas e abordagens teológicas. Alguns teólogos podem discordar das ideias de Barth com base em suas próprias interpretações das escrituras, tradições teológicas ou filosofias religiosas. Suas críticas podem variar dependendo de suas próprias convicções teológicas e metodológicas.

A partir dos anos que se seguiram à Reforma Protestante, a Igreja Católica, seus oficiais e teólogos respeitados, acenaram para o perigo da universalização do esforço interpretativo do texto bíblico defendido então pelo movimento dissidente, defendendo que pessoas comuns não estariam preparadas para a função de avaliação correta das Sagradas Escrituras. A isso chamou de irresponsabilidade protestante[12], ressaltando que a tarefa querigmática[13] tanto quanto a interpretação e ensino religioso, estava confiada tão somente aos seu líderes, considerando o que chamavam de Tradição da Igreja. Olhando em retrospecto, me parece que o receio estava concentrado na possibilidade libertadora que o conhecimento bíblico poderia trazer a fiéis convenientemente conduzidos e influenciados[14]. Parece que tal receio e prática se alastrou até mesmo por denominações evangélicas ao longo dos anos.

Entender a teologia como todo e qualquer pensamento sobre Deus, no entanto, não diminui em nada sua importância acadêmica, e muito menos impede que continuemos a considerá-la como ciência, seguindo na busca por excelência na apuração e compreensão dos textos bíblicos. Muito pelo contrário. À medida que o exercício teológico se estende aos diversos núcleos e modelos de agrupamentos sociais, mais amplas se tornam suas possibilidades e demanda por critérios capazes de compreender as diferentes realidades da existência humana, enriquecendo o esforço teológico responsável que lhe oriente a tarefa primordial. O que, no final de tudo, acaba por fortalecer o empenho honesto em conhecer Deus.

Semelhante aos demais campos do conhecimento humano, sempre haverá diferentes entendimentos, abordagens, suspeitas e conclusões. Assim como temos engenheiros civis, técnicos em edificações, mestres de obras, pedreiros e auxiliares de pedreiro, todos lidando com construções em papéis e pertinências variadas e não menos necessárias ainda que exigindo diferentes graus de qualificação, a teologia continuará a produzir seus especialistas eruditos, mestres, sacerdotes, estudiosos e curiosos, cada qual na medida de sua dedicação e vocação, mas todos igualmente envolvidos pela mesma motivação primordial da fé.

Por fim, a vantagem de se ampliar a abrangência do labor teológico, é que, de sementes aleatoriamente espalhadas por pássaros, rios, ventos e outros eventuais semeadores, surgem as densas e importantes florestas. A desvantagem? Teremos que nos superar no cuidado de sua inevitável variedade de espécies e observar diligentemente a totalidade de sua biodiversidade. Precisaremos cuidar do solo, controlar pragas, podar galhos, varrer as folhas e cuidar do jardim[15]. Quem não quiser trabalho que não se ofereça ao Reino.



[1] A questão da teologia ser considerada uma ciência é objeto de debate entre os estudiosos, com diferentes opiniões sobre o assunto. Alguns defendem que a teologia pode ser considerada uma ciência legítima, enquanto outros discordam dessa caracterização. Resumimos as posições de alguns estudiosos proeminentes sobre o tema:

A favor:

·         Karl Barth: Barth via a teologia como uma ciência legítima, embora reconhecesse que ela tinha características únicas que a distinguia das ciências naturais. Ele argumentava que a teologia era uma ciência porque tinha seu objeto próprio (Deus) e empregava métodos racionais para investigá-lo.

·         Rudolf Bultmann: Bultmann defendia que a teologia era uma ciência, mas uma ciência humana, sujeita às limitações e condicionamentos da existência humana. Ele via a teologia como uma disciplina acadêmica que podia ser estudada e praticada com métodos científicos.

Contra:

·         Ludwig Feuerbach: Feuerbach foi crítico da teologia e da religião em geral. Ele argumentava que a teologia não era uma ciência verdadeira porque não se baseava em evidências empíricas ou observações objetivas, mas sim em projeções humanas de desejos e necessidades.

·         Sigmund Freud: Freud via a religião e, por extensão, a teologia, como expressões de desejos inconscientes e mecanismos de defesa psicológica. Ele considerava a teologia como uma pseudociência que não podia ser submetida ao escrutínio científico.

[2] “Deus assim procedeu para que a humanidade o buscasse e provavelmente, como que tateando, o pudesse encontrar, ainda que, de fato, não esteja distante de cada um de nós;”; Atos 17:27 - KJA

[3] Aqui três exemplos de dicionários teológicos-filosóficos que contêm explicações sobre o significado de teologia:

1.       "Dicionário Teológico Conciso" de Millard J. Erickson: Este dicionário oferece definições claras e concisas de termos teológicos importantes, incluindo uma explicação sobre o que é teologia.

2.       "Dicionário de Teologia do Novo Testamento" de Colin Brown: Esta obra fornece uma compreensão abrangente da teologia do Novo Testamento, incluindo uma definição do termo "teologia" e sua importância no contexto bíblico.

3.       "Dicionário de Teologia Evangélica" de Walter A. Elwell: Este dicionário oferece uma visão geral da teologia evangélica, incluindo definições de termos teológicos e uma explanação sobre o que constitui a teologia como disciplina acadêmica e prática religiosa.

Esses dicionários são recursos úteis para estudantes e estudiosos que desejam entender melhor o significado e o contexto da teologia.

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[4] Embora a Bíblia não contenha uma declaração explícita de que "Deus não se esconde de ninguém", há passagens que sugerem a disponibilidade de Deus para aqueles que o buscam sinceramente. Aqui estão algumas referências bíblicas pertinentes:

1.        Jeremias 29:13 (NVI): "Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração."

2.        Mateus 7:7-8 (NVI): "Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta."

3.        Deuteronômio 4:29 (NVI): "Mas, se de lá vocês buscarem o Senhor, o seu Deus, o encontrarão se o procurarem de todo o coração e de toda a alma."

Essas passagens sugerem que Deus está disponível para aqueles que o buscam sinceramente, e que Ele se revela àqueles que o procuram de coração aberto e com diligência.

[5] A afirmação de que "Deus não faz acepção de pessoas" é encontrada em várias passagens bíblicas. Aqui estão algumas delas:

1.        Atos dos Apóstolos 10:34-35 (NVI): "Então Pedro começou a falar: 'Agora percebo verdadeiramente que Deus não faz acepção de pessoas, mas aceita os que o temem e praticam a justiça, sejam de que nação forem.'"

2.        Romanos 2:11 (NVI): "Pois Deus não faz acepção de pessoas."

3.        Gálatas 3:28 (NVI): "Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus."

4.        Efésios 6:9 (NVI): "E vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o mesmo Senhor deles e de vocês está no céu, e ele não faz acepção de pessoas."

Essas passagens enfatizam a imparcialidade de Deus em relação às pessoas, destacando que Ele valoriza a fé, a justiça e a reverência independentemente da origem étnica, social ou cultural.

 

[6] Nesta obra, Karl Barth apresenta uma explanação sobre a teologia evangélica, discutindo temas fundamentais da fé cristã sob uma perspectiva teológica. É uma introdução acessível e esclarecedora aos princípios e conceitos da teologia apresentada apenas nos quatro Evangelhos.

[7] Karl Barth foi um teólogo suíço, considerado um dos mais influentes do século XX. Nasceu em 1886 e faleceu em 1968. Ele é conhecido principalmente por sua obra monumental "Igreja Dogmática" (ou "Dogmática Eclesiástica"), uma série de volumes que representam uma revisão radical da teologia reformada tradicional. Barth é frequentemente associado à teologia dialética, que enfatiza a tensão entre Deus e o ser humano, entre a revelação divina e a limitação humana.

Sua teologia enfatizava a soberania absoluta de Deus, a centralidade da revelação divina em Jesus Cristo e a natureza exclusiva da fé como resposta à Palavra de Deus. Ele também foi um crítico ferrenho do liberalismo teológico de sua época, argumentando que a teologia deveria ser baseada na autoridade das Escrituras e na revelação divina, em vez de na razão humana ou na cultura.

Barth teve uma grande influência no pensamento teológico cristão do século XX e suas obras continuam sendo objeto de estudo e debate até os dias de hoje. Ele foi professor em diversas universidades e deixou um legado significativo não apenas na teologia reformada, mas também na teologia em geral.

[8] Israel Belo é um teólogo, escritor e pastor brasileiro, conhecido por suas contribuições no campo da teologia prática e pela sua abordagem acessível aos temas teológicos. Ele é graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB) e possui mestrado em Teologia Pastoral pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo (FTBSP). Belo é autor de diversos livros, incluindo obras de teologia pastoral, espiritualidade e aconselhamento cristão. Ele também é pastor da Igreja Batista Itacuruçá, no Rio de Janeiro, onde ministra e exerce seu pastoreio. Sua influência se estende além das fronteiras denominacionais, sendo reconhecido por suas reflexões teológicas que dialogam com o contexto contemporâneo.

[9] A "Teologia Tradicional" é um termo amplo que se refere a uma abordagem teológica que valoriza a continuidade com a tradição cristã histórica, incluindo tanto os ensinamentos dos primeiros pais da igreja quanto as formulações teológicas desenvolvidas ao longo dos séculos. Esta abordagem teológica muitas vezes enfatiza a autoridade das Escrituras Sagradas, a tradição da igreja, a razão e a experiência religiosa como fontes de conhecimento teológico.

Alguns aspectos comuns da Teologia Tradicional incluem:

1.       Ênfase na ortodoxia: A Teologia Tradicional tende a defender e promover as doutrinas e ensinamentos considerados ortodoxos pela tradição cristã histórica, incluindo a Trindade, a Encarnação, a Expiação e a Ressurreição.

2.       Interpretação literal ou histórico-gramatical das Escrituras: Muitos teólogos tradicionais adotam uma abordagem hermenêutica que enfatiza a interpretação literal ou histórico-gramatical das Escrituras, buscando entender o significado original dos textos bíblicos dentro de seus contextos culturais, históricos e linguísticos.

3.       Uso de fontes complementares: Além das Escrituras, a Teologia Tradicional muitas vezes recorre a outras fontes de autoridade teológica, incluindo os escritos dos pais da igreja, os credos e confissões de fé, os concílios ecumênicos e a tradição litúrgica.

4.       Abordagem sistemática: Muitos teólogos tradicionais adotam uma abordagem sistemática para a teologia, organizando suas reflexões teológicas em torno de temas centrais, como a doutrina de Deus, a cristologia, a pneumatologia, a eclesiologia e a escatologia.

 

[10] A Teologia Reformada, também conhecida como Calvinismo, é uma tradição teológica dentro do Cristianismo Protestante que se baseia nos ensinamentos teológicos de líderes como João Calvino, Ulrico Zwinglio, Martinho Lutero e outros reformadores do século XVI. Esta tradição teológica é caracterizada por várias ênfases distintas:

1.       Sovereignia de Deus (Soberania de Deus): A Teologia Reformada enfatiza a soberania absoluta de Deus sobre todas as coisas, incluindo a salvação. Isso se manifesta na doutrina da predestinação, que sustenta que Deus, em sua soberania, escolheu desde a eternidade aqueles que seriam salvos.

2.       Autoridade das Escrituras: Assim como outras tradições protestantes, a Teologia Reformada enfatiza a autoridade suprema das Escrituras Sagradas como a fonte final de autoridade em matéria de fé e prática.

3.       Doutrina da Graça Irresistível: A Teologia Reformada ensina que a graça de Deus é irresistível, o que significa que aqueles a quem Deus escolheu para a salvação não podem resistir ao chamado eficaz do Espírito Santo.

4.       Doutrina da Eleição Incondicional: A Teologia Reformada defende a doutrina da eleição incondicional, que sustenta que Deus escolheu soberanamente alguns indivíduos para a salvação, não com base em mérito humano, mas de acordo com o seu propósito soberano.

5.       Doutrina da Expiação Limitada: A Teologia Reformada ensina que a expiação de Cristo é eficaz apenas para os eleitos de Deus, aqueles que foram predestinados para a salvação. Isso contrasta com a visão arminiana de expiação universal.

6.       Ênfase na Glória de Deus: A Teologia Reformada enfatiza a glória de Deus como o objetivo final de todas as coisas, incluindo a salvação dos eleitos.

[11] A Teologia Contemporânea é uma área da teologia que se concentra nos debates, questões e desenvolvimentos teológicos que ocorreram desde meados do século XX até os dias atuais. Esta abordagem teológica reflete as preocupações, contextos e desafios enfrentados pela igreja e pela sociedade contemporânea.

Alguns aspectos que caracterizam a Teologia Contemporânea incluem:

1.       Contextualização: A Teologia Contemporânea reconhece a importância de contextualizar a mensagem teológica para diferentes contextos culturais, sociais e históricos. Isso envolve uma abordagem interdisciplinar que incorpora insights da sociologia, antropologia, ciências políticas, entre outras áreas.

2.       Diálogo Inter-religioso e Interdisciplinar: A Teologia Contemporânea promove o diálogo e o engajamento com outras tradições religiosas, bem como com outras disciplinas acadêmicas, buscando compreender e responder aos desafios do mundo contemporâneo de forma ampla e inclusiva.

3.       Questões Sociais e Políticas: Esta abordagem teológica aborda questões sociais e políticas urgentes, como justiça social, direitos humanos, desigualdade econômica, ecologia e questões de gênero. Ela busca aplicar os ensinamentos éticos e morais da fé cristã para enfrentar esses desafios.

4.       Pluralismo Teológico: A Teologia Contemporânea reconhece a diversidade de perspectivas teológicas dentro do Cristianismo e além dele. Ela valoriza a pluralidade de vozes teológicas e incentiva o diálogo e a cooperação entre diferentes tradições e abordagens teológicas.

5.       Reavaliação das Doutrinas Tradicionais: Esta abordagem teológica muitas vezes envolve uma reavaliação crítica das doutrinas tradicionais à luz das questões contemporâneas e das descobertas científicas. Isso pode incluir uma reinterpretação das Escrituras e uma nova compreensão de conceitos como salvação, expiação, trindade, entre outros.

[12] A "irresponsabilidade protestante" era o termo usado historicamente pela Igreja Católica para criticar a interpretação individual das Escrituras pelos fiéis protestantes. A Igreja argumentava que os leigos não estavam preparados para interpretar corretamente as Sagradas Escrituras e que essa prática poderia levar a interpretações distorcidas e divisões na fé cristã. Assim, defendia que apenas os líderes da igreja, como os clérigos e teólogos, deveriam ter o papel de interpretar e ensinar a religião, mantendo a tradição da igreja como autoridade final. Essa visão enfatizava a importância do controle e da autoridade centralizada na igreja institucional.

[13] A Tarefa Querigmática refere-se à proclamação do Evangelho, à pregação da mensagem central do Cristianismo, que inclui a apresentação de Jesus Cristo como Salvador e Senhor, o chamado ao arrependimento e a oferta de salvação pela graça mediante a fé. Essa tarefa é central na missão da igreja e visa a transformação espiritual e moral das pessoas, bem como o estabelecimento do Reino de Deus na Terra.

[14] É importante observar que a compreensão da história da interpretação bíblica e das relações entre catolicismo e protestantismo é complexa e multifacetada. Nuances teológicas, históricas e sociais precisam ser acrescentadas nesse debate. No entanto, deixaremos esta questão para mais adiante.

[15] Gênesis 2:15 (NVI): "O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo."