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domingo, 17 de janeiro de 2016

Por que Teologia? Confissões

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 13/04/2024


- O que? Biologia?

- Não, não. Teologia!

- Ah! Legal... E a pessoa responde normalmente sem graça, lívida, doida para sair logo dali. E tudo isso enquanto olha através de mim, buscando uma boa desculpa para se despedir e ir. Algumas outras pessoas um pouco mais interessadas, sinceramente perguntam: - Mas por que teologia? E aí a conversa fica ainda mais louca.

Intelectualmente vaidoso, busquei sempre elaborar uma resposta que fosse ao mesmo tempo consistente, pertinente, admirável e racional. Um malabarismo mental desnecessário, que me obrigava a rechear a resposta com lógicas e motivações de bom senso e apuro intelectual, que me fizessem parecer um jovem equilibrado e maduro. Um religioso, sim, mas longe de ser apontado como fanático, superficial, ou tendencioso. Perdi a conta de quantas vezes me arrependi das respostas que dei ao tentar me justificar. Tudo na intenção subliminar de ser aceito, em vez de rejeitado por num ativismo secundário e sem importância. Vaidade de vaidade. Tudo é vaidade.

No fundo, por mais que eu quisesse passar a ideia de independente e livre de convenções, fui iludido pelo engano do parecer ser, e me fartei do mesmo manjar. Eu acreditava que minha escolha pela teologia precisava ter contornos de utilidade, pragmatismo e relevância social. Eu precisava sentir-me admirado e intelectualmente respeitado. O impulso que orientou minha opção pela Teologia estava certo. Mas a convicção que sustentava o caminho era frívola. E diante das demandas da vida e obrigações que se impuseram no tempo, sucumbi. Como na parábola do semeador, em que as sementes caíram entre os espinhos.

Muitas noites se seguiram em elucubrações sem fim, com o peito ardendo. Sensação de perda de tempo. Queria entender e identificar para mim mesmo o sentido prático em estudar teologia em lugar de uma outra ciência qualquer que me despertasse interesse; e nem eram poucas. Até o dia em que consegui perceber o que sempre esteve diante dos meus olhos; na verdade em mim. Eu sentia prazer em laborar a teologia. Isso mesmo; prazer.

Nosso modelo ocidental despreza o prazer como motivação aceitável para toda e qualquer atividade que se possa julgar legítima, e razoavelmente relevante. Prazer está relacionado à satisfação pessoal e íntima, remetendo ao lascivo e ao egoísta. Logo, aquilo que é prazeroso, seguida essa ótica, não pode ser considerado de interesse comum, ou nobre em seu intento original. Apenas o fruto do sacrifício, ou daquilo que é realizado por obrigação e grande custo, ganha a chancela do louvável. Por essa razão, tantas pessoas narram seus feitos, recheando a história com dificuldades aumentadas, e sacrifícios admiráveis. – Foi difícil, sabe? Mas apesar de tudo, cumpri com minhas obrigações. Era a minha missão! E o orgulho de si mesmas escorre por palavras vazias. Uma compulsão por sentir-se cumprindo um sacerdócio de canseira e enfado. Como eu sei? Cansei de fazer isso.

Talvez eu até esteja frustrando alguns, que gostariam de ler uma fantástica história de chamado especial, que justificasse minha escolha. Um relato que homologasse uma vocação inexorável. Se eu puxar pela memória, talvez consiga até mesmo identificar uma ou outra circunstância possamos interpretar como um chamado propriamente dito. Mas desculpem os místicos de plantão. Penso que se não sentisse tanto prazer, se não me fosse tão delicioso à alma, talvez não me gastasse tanto, nem me dedicasse tanto ao labor teológico. Mas é difícil analisar quaisquer circunstâncias baseadas em escolhas que não fiz. Não há como avaliar o que teria sido a vida que não escolhi ter; uma vida sem o prazer da Teologia.

Pensando bem, no entanto, não seria o próprio prazer em realizar, uma vocação intrínseca ao que se inclina o desejo? Não seria a atração por Deus um inquestionável e genuíno chamado, produzido em nós pelo Espírito? Em Oseias 6:6 não afirma o profeta que aquilo que é devotado por amor, é preferível ao que é realizado por sacrifício? Creio que a excelência nasce do inefável prazer e empenho, na realização ao que nos dedicamos. Alegria, diria Spinoza, é o motor de nossas potências.

É claro que, seguindo os mais aceitáveis e conhecidos padrões apologéticos, seria possível destacar algumas relevantes razões para o estudo da teologia. Razões que passeiam tanto pela defesa da fé, quanto pelo Ide de Jesus. Os grandes mestres da Teologia foram prodigiosos em relacionar motivações diversas e muito bem sustentadas. Mas particularmente prefiro a afirmação de Anselmo de Cantuária; Não estudamos para crer; estudamos porque cremos. É a minha fé que me impulsiona a estudar. É meu amor por Deus e por sua Palavra que me faz querer conhecê-lo intensamente. Estudar teologia está para o cristão, assim como a poesia para os amantes. Laborar Teologia é gastar-se em pensar em Deus, e falar sem detrimento da grandeza do seu amor.   

Pode ser que alguém faça questão de dizer que estuda teologia por dever, e que se orgulha muito de cumprir com a missão que recebeu por sonho ou profecia, e que segue irrestritamente a obrigação de seu chamado. Tudo bem se nisso está sua satisfação; cumprir à risca uma obrigação. Mas sinceramente prefiro confessar convicto, que o faço pelo prazer de pensar Deus todo o tempo; minha motivação única e mais que suficiente. Afinal, para onde iríamos se tu tens as palavras de vida eterna?[1]

Queira Deus que seu coração, através de mais este espaço temático, seja também despertado em alegria e prazer no estudo da Teologia. Que a cada texto e reflexão, haja inspiração para crescimento na graça e no conhecimento de Deus[2]. Para isso será o meu empenho e disso resultará minha recompensa. Por tudo e em tudo o Senhor seja louvado. Amém.



[1]  João 6:68

[2]  2 Pedro 3:18

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