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sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Mídia, Religião e Confusão - Uma realidade da Era Digital

 

Por Jânsen Leiros

"O meio é a mensagem." - Marshall McLuhan – Understanding Media: The Extensions of Man (1964); McLuhan enfatiza que os meios de comunicação, como a mídia, não são apenas canais neutros de transmissão de informação, mas moldam a própria natureza das mensagens que carregam. Ele reconhece o impacto profundo da mídia na formação das ideias e como ela altera nossa percepção da realidade, o que se alinha com a ideia de que a mídia influencia de maneira substancial a compreensão teológica e religiosa.

"A ascensão da mídia digital e das comunicações instantâneas permite que ideias religiosas, tanto ortodoxas quanto heréticas, se espalhem com uma velocidade sem precedentes." - Alister McGrath – The Twilight of Atheism (2004); McGrath analisa a interação entre mídia e religião, destacando como a internet e outras formas de mídia digital moldam a maneira como as pessoas acessam e interpretam conteúdos religiosos. Essa citação corrobora a ideia de que a proliferação de informações, muitas vezes superficiais, pode distorcer doutrinas e criar uma compreensão fragmentada da fé.

"A comunicação pública, especialmente na era digital, muitas vezes perde a capacidade de promover um diálogo genuíno e reflexivo, sendo frequentemente substituída por informações simplificadas e sensacionalistas." - Jürgen Habermas – The Theory of Communicative Action (1981); Habermas argumenta sobre o papel crucial da comunicação para a formação da opinião pública, mas também aponta os riscos da comunicação superficial que prevalece nas mídias contemporâneas, um ponto que está em consonância com a crítica à superficialidade da informação religiosa na mídia.

"O desafio contemporâneo para o cristianismo é como transmitir a verdade eterna em um mundo de informação instantânea e transformada." - John Stott – The Contemporary Christian (1992); Stott destaca as dificuldades enfrentadas pelas tradições religiosas em manter a profundidade e a autenticidade diante da aceleração da troca de informações e da superficialidade das mensagens midiáticas. Ele sugere que a fé precisa resistir à tentação de ser reduzida a um produto de consumo rápido.

"A internet, ao democratizar o acesso à informação, ao mesmo tempo facilita a propagação de ideias errôneas e a criação de bolhas ideológicas." - Yuval Noah Harari – 21 Lessons for the 21st Century (2018); Harari argumenta sobre os efeitos da internet na formação de bolhas ideológicas e a disseminação de desinformação, um fenômeno que também se aplica ao campo religioso, conforme discutido no texto abaixo, onde a mídia digital pode facilitar a proliferação de ideias errôneas ou incompletas sobre a fé.

Há algum tempo, venho acompanhando com apreensão a disseminação, pela mídia, de conteúdos religiosos – e, em especial, de materiais que se apresentam como cristãos e teológicos. Não é que eu questione a legitimidade do uso da mídia para divulgar temas desse campo; pelo contrário, reconheço seu potencial em difundir valores espirituais e conhecimentos sobre a fé. No entanto, minha preocupação recai sobre o modo como esses conteúdos têm sido veiculados, muitas vezes promovendo afirmações questionáveis e compreensões passíveis de debate

A mídia, com seu poder de moldar a opinião pública e disseminar informações em tempo real, exerce uma influência cada vez mais significativa na compreensão teológica contemporânea. A facilidade de acesso a conteúdos religiosos através de diversas plataformas digitais democratizou a busca por conhecimento espiritual, oferecendo aos indivíduos a oportunidade de explorar diferentes perspectivas e interpretações das escrituras sagradas.

No entanto, a proliferação de informações, muitas vezes fragmentadas e superficiais, também apresenta desafios. A busca por audiência e o impulso de simplificar conceitos complexos acabam distorcendo doutrinas e disseminando ideias equivocadas. A mídia, ao transformar a fé em um produto de consumo, incorre no risco de banalizar o sagrado e reduzir a espiritualidade a uma mera experiência emocional.

A influência da mídia na religião não é um fenômeno recente. Ao longo da história, as diferentes mídias disponíveis em cada época – da imprensa escrita ao rádio e à televisão – moldaram e, muitas vezes, instrumentalizaram a compreensão e a prática religiosa para servir a objetivos específicos. A Reforma Protestante, por exemplo, foi impulsionada pela invenção da imprensa, que permitiu a disseminação rápida das ideias de Lutero.

Na era digital, a influência da mídia se intensifica. As redes sociais, os blogs e os podcasts oferecem plataformas para a produção e disseminação de conteúdos religiosos por parte de indivíduos e grupos. Essa democratização da informação, embora superficial, permite um diálogo mais amplo e diversificado sobre questões de fé. Por outro lado, ela também facilita a propagação de informações falsas e impulsiona a formação de bolhas ideológicas que reforçam visões estreitas, prejudicando o diálogo genuíno entre diferentes perspectivas religiosas.

Para além dos aspectos negativos, a mídia também pode ser uma ferramenta poderosa para a promoção do diálogo inter-religioso e da compreensão mútua. Programas de TV, documentários e filmes podem apresentar as diferentes tradições religiosas de forma respeitosa e informativa, contribuindo para a construção de uma sociedade mais plural e tolerante.

É fundamental que os indivíduos desenvolvam um senso crítico aguçado para discernir as fontes confiáveis e construir uma compreensão teológica sólida e fundamentada. A leitura aprofundada de textos teológicos clássicos, a participação em comunidades religiosas e o diálogo com especialistas são elementos essenciais para uma compreensão teológica sólida, especialmente em um cenário onde a mídia, em grande parte, prioriza conteúdos emocionais e superficiais em detrimento da profundidade e da autenticidade espirituais. Além disso, a mídia pode ser utilizada como uma ferramenta para o diálogo inter-religioso e o aprofundamento da compreensão das diferentes tradições religiosas.

Este é apenas o início de uma jornada mais profunda sobre o impacto da mídia na nossa compreensão da fé e da teologia. Ao longo das próximas semanas, exploraremos com mais detalhes como a mídia tem transformado a prática religiosa, as distorções que ocorrem ao simplificar doutrinas complexas e a necessidade de uma reflexão crítica sobre as informações que consumimos. Com isso, buscaremos não apenas compreender melhor esses fenômenos, mas também sugerir caminhos para uma prática cristã mais sólida e fundamentada, que resista às pressões da superficialidade e da comercialização do sagrado.


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